sábado, 19 de novembro de 2011


Papa Bento 16 visita Benin, berço do vodu

Após desembarcar, pontífice alertou para riscos da passagem à 'modernidade', incluindo a 'submissão às leis do mercado ou das finanças'

O papa Bento 16, de 84 anos, chegou nesta sexta-feira a Cotonou, capital política e econômica do Benin, país do oeste da África considerado berço do vodu, onde permanecerá até domingo. A visita de três dias tem como objetivo a entrega aos bispos africanos da Exortação Apostólica do Sínodo de Bispos para a África realizado em 2009 no Vaticano.
O papa foi recebido pelo presidente do Benin, Thomas Boni Yayi, sua esposa e pelo arcebispo de Cotonou e presidente da Conferência Episcopal do Benin, Antoine Ganyé. No discurso que fez após desembarcar, Bento 16 alertou para os riscos da passagem à "modernidade", incluindo a "submissão incondicional às leis do mercado ou das finanças".
Ao iniciar a visita, Bento 16 prestou homenagem aos "chefes tradicionais", sublinhando seu papel na passagem à modernidade. "Sua contribuição é importante para construir o futuro do país. Desejo encorajá-los a participar, com sua sabedoria, inteligência e costumes, da passagem delicada que se opera atualmente entre a tradição e a modernidade", declarou.
Durante os três dias no país, Bento 16 - guia de 1,181 bilhão de católicos no mundo - permanecerá duas noites na capital. O único deslocamento previsto será uma viagem de ida e volta no sábado para a cidade litorânea de Ouidah, a 40 km a oeste da capital, onde há um museu de um culto animista, o vodu. Na cidade, celebra missa no grande estádio local.
Embora o número de católicos em Benin cresça rapidamente, 40% da população de 9 milhões segue o vodu, que foi levado por escravos ao Caribe. Cerca de 27% se descrevem como cristãos, enquanto 22% dizem ser muçulmanos, mas estima-se que muitas dessas pessoas combinem as práticas do vodu com de outras religiões.
Durante o voo para o país africano, o papa expressou sua preocupação pelo auge das igrejas evangélicas na América Latina e África. Em conversa com jornalistas, ele afirmou que, perante esse desafio, a Igreja Católica tem de oferecer uma mensagem simples, profunda e compreensível.
O papa afirmou que as igrejas evangélicas crescem porque expõem uma mensagem aparentemente compreensiva e uma liturgia participativa que, na realidade, consiste no "sincretismo de religiões".
África e aids
Essa é a 22ª viagem do papa Bento 16 em seus seis anos de pontificado. Também é a segunda vez que o papa visita a África, onde já esteve em 2009, quando viajou para Camarões e Angola e causou protestos mundiais quando sugeriu que a distribuição de preservativos agravou o problema da aids.
Desde então, o pontífice parece ter suavizado essa postura, afirmando em um livro, publicado no ano passado, que o uso do preservativo é aceitável "em alguns casos", principalmente para reduzir o risco de infecções por HIV.
Não é de hoje que os católicos africanos se veem divididos entre a doutrina da Igreja e a realidade de uma doença mortal, que castiga milhões. É na África subsaariana que estão concentrados quase 70% dos casos de HIV no mundo.
"O que o papa disse é o ideal", explicou Lea Glago, jornalista e católica de 28 anos de Benin, referindo-se aos comentários feitos em 2009. "Mas, para ser honesta com você, não respeito isso e acho difícil respeitar. Não conheço ninguém ao meu redor que o faça", acrescentou.
Organizações católicas de caridade são responsáveis por oferecer grande parte dos cuidados para as vítimas da aids na África subsaariana, onde vivem 22 milhões de soropositivos. O pragmatismo às vezes tem precedência sobre a análise do significado dos pronunciamentos do Vaticano.
No pequeno reino da Suazilândia, na África Austral, país com a pior taxa de prevalência de HIV, com cerca de 26% da população adulta soropositiva, alguns missionários católicos dizem preferir se concentrar em salvar vidas.
"Como um homem da Igreja, grande parte do que é feito não é oração. É uma resposta à crise", explicou o padre Martin McCormick, missionário e fundador da Hope House (Casa da Esperança), um abrigo para pacientes com aids e seus familiares.
McCormick também supervisiona 60 escolas católicas, onde os 8 mil estudantes são órfãos da aids. "Se você tem 8 mil crianças famintas, não se volta para o Vaticano. Pensa em dar uma 'resposta humana' ao que vê à sua frente. Não penso em políticas ou filosofias", afirmou.
No mesmo país, a irmã Diane Dalle Molle, uma freira católica que há oito anos aconselha e examina pessoas para detecção do HIV, afirmou: "Podemos dizer a eles o que está disponível lá fora. Não fornecemos preservativos, mas eles sabem onde consegui-los", explicou.
Alguns, no entanto, decidem se ater ao dogma. Gift Mambipiri, líder do movimento estudantil católico do Zimbábue, afirmou que "a Igreja trata da vida e de salvar vidas. A abordagem holística prega abstinência e fidelidade total".
Na Nigéria, o país mais populoso da África, o diretor da agência nacional antiaids, chamou a postura da Igreja Católica com relação aos preservativos de "irrealista". "Na realidade, muitos compreendem (o uso do preservativo), mas não querem ir contra a doutrina", explicou John Idoko, diretor da agência nigeriana de controle contra a aids.
Ele disse que no ano passado um grupo de católicos "fanáticos" levou sua agência, o Ministério da Saúde e uma agência de controle de drogas à Justiça por promover o uso de preservativos, alegando que distribuíam camisinhas com buracos e incentivavam a disseminação do HIV. O caso foi arquivado depois que os pleiteantes fracassaram em provar suas alegações.
Na África do Sul, país com o maior número de casos de HIV do mundo, a Igreja Católica e suas clínicas, abrigos, programas de cuidados domésticos e orfanatos se viram na frente de batalha do combate à aids.


fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/papa-bento-16-visita-benin-berco-do-vodu/n1597373777888.html

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Salve Maria